domingo, 22 de novembro de 2015

Lama pode ser chance para salvar bacia do Rio Doce


Lama pode ser chance para salvar bacia do Rio Doce
Foto: Reprodução
A onda de lama não poderia ter chegado num momento pior para o Rio Doce. "Nunca vi o rio desse jeito", é a frase que mais se escutava na última semana dos moradores de Colatina, no norte do Espírito Santo, um dos últimos municípios a serem atingidos pelo vazamento de rejeitos de minérios da Samarco. Estavam se referindo ao tom alaranjado da água, mas não só isso. Mesmo antes da enxurrada de lama chegar, o estado de saúde do Rio Doce já era precário, resultado de séculos de desmatamento, poluição, assoreamento, pesca predatória e introdução de espécies exóticas, como o dourado e a tilápia, que geram renda para os pescadores, mas ocupam o lugar da fauna nativa. Tudo isso agravado por um cenário de estiagem extrema, que reduziu drasticamente o volume de água no rio e, consequentemente, sua capacidade de diluir a lama que escorreu da mineradora. "O rio já estava sofrendo", diz o lavrador Nelson Rocha, morador de Itapina, o distrito mais a oeste de Colatina. Ele culpa o desmatamento das matas ciliares pela secura. "Tem muita nascente aí para recuperar. Se reflorestar a margem do rio, pelo menos uns 100 metros de cada lado, e acabar com essa pesca clandestina, a coisa já melhorava, e melhorava muito." À medida que a onda de lama se aproxima do mar, pesquisadores e autoridades começam a fazer um discurso semelhante, chamando a atenção para a necessidade de uma restauração em grande escala de toda a bacia hidrográfica do Rio Doce, e não apenas para a remoção da lama. Paulo Fontes, responsável pela Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (DBFLO) do Ibama, disse que a recuperação do rio deve levar no mínimo uma década - mas que é possível. No que diz respeito aos peixes, apesar da grande mortandade verificada por onde a enxurrada de lama passou em Minas Gerais, ele ressalta que o Rio Doce tem muitos afluentes, que podem ter funcionado como rota de fuga para os animais, e que poderão repovoar a calha principal do rio uma vez que o impacto maior do desastre tenha se dissipado. Já no Espírito Santo, a situação é mais complicada, porque são poucos os afluentes. Por isso, nesse trecho do rio, a estratégia emergencial adotada foi a de coletar amostras de espécies nativas antes da chegada da lama e preservá-las em cativeiro. As principais dúvidas relacionadas ao impacto ambiental do desastre referem-se à composição química da lama e ao tempo que ela permanecerá no ambiente. Sem esses dois parâmetros, não há como prever quais serão seus efeitos a longo prazo no ecossistema.

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