terça-feira, 27 de junho de 2017

Boicote de clubes de Pernambuco ameaça próxima Copa do Nordeste

Um levante dos três maiores clubes de Pernambuco tem colocado a Copa do Nordeste em risco. Insatisfeitos com o novo formato e o calendário da competição, Sport, Santa Cruz e Náutico ameaçam deixar a Liga do Nordeste, responsável pela organização do torneio, antes mesmo da edição 2018 ser sorteada.

Novo formato da Copa do Nordeste não agrada pernambucanos (Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia)
Na segunda-feira (19), no Recife, aconteceu uma reunião entre os presidentes do Bahia, Marcelo Sant’Ana, e do Vitória, Ivã de Almeida, com os mandatários do trio de ferro de Pernambuco. Ainda estiveram no encontro os dirigentes das federações pernambucana, Evandro Carvalho, e baiana, Ednaldo Rodrigues.
Segundo Ivã de Almeida, os times pernambucanos, liderados pelo Sport, têm se colocado contra o formato aprovado pela Liga do Nordeste para o ano que vem. A pretensão deles é sair da Liga do Nordeste e criar uma nova entidade, apenas com os oito maiores clubes da região. Para tanto, precisariam obviamente da adesão de Bahia e Vitória.
O novo formato foi aprovado em maio, em assembleia da Liga do Nordeste, e contou com voto favorável da dupla Ba-Vi. Serão 12 clubes garantidos na fase de grupos, com outros oito disputando quatro vagas numa seletiva. Os clubes de Pernambuco se abstiveram.
Seguindo os novos critérios de classificação, Sport e Salgueiro, que disputarão a final estadual nesta quarta-feira (28), já estão garantidos na fase de grupos. Santa Cruz, terceiro colocado, terá que buscar a vaga na fase preliminar. Náutico, quarto colocado, está fora da edição 2018 do regional.
É justamente essa não garantia dos times grandes na fase de grupos que tanto incomoda o trio do Recife. Bahia e Vitória foram à reunião para negociar a permanência de todos no torneio. No entanto, o rubro-negro não nega aderir ao movimento caso os pernambucanos deixem a Liga.
“Bahia e Vitória foram a favor da redução para 16 times na fase de grupos da Copa do Nordeste. Nos últimos anos, a competição vem ganhando musculatura e apelo junto à torcida. Mas é inegável que uma saída dos times pernambucanos prejudicaria essa musculatura. É preciso negociar”, diz Ivã de Almeida.
Durante as reuniões - já foram duas até agora -, outras alternativas surgiram, como um torneio com duas divisões, com oito equipes em cada. A conclusão do encontro no Recife foi que cada clube pensaria numa saída para o imbróglio e estudaria o estatuto da Liga do Nordeste, especialmente no que se refere à desfiliação dos membros. No entanto, segundo Marcelo Sant’Ana, o Bahia não vai sair. Com vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil 2018, o tricolor não quer dar margem a uma possível sanção da CBF.

Presidente da liga, Alexi Portela não participou das reuniões (Foto: Evandro Veiga / CORREIO)
‘Dá para negociar’, diz Alexi
Presidente da Liga do Nordeste, Alexi Portela Júnior não participou das reuniões entre os clubes. “Essa é uma questão antiga. Os pernambucanos não concordaram com a mudança do formato, mas foram vencidos pelos votos da maioria. Desde então, criaram essa situação toda”, comentou.
“O que querem é garantir os três clubes na fase de grupos, e isso a gente não pode fazer. Os outros oito estados concordaram em enviar um representante para a fase preliminar. Não posso favorecer Pernambuco, por mais forte que seja o futebol de lá”, completou.
Ciente de que as reuniões para desfiliação têm acontecido, Portela pretende se reunir com os clubes - ele chegaria nesta segunda-feira (26) do exterior. “Não encaro a possibilidade de saírem da Liga do Nordeste. Existe um contrato assinado pelos clubes que garante a Copa do Nordeste até 2022. O fim da competição geraria multas enormes para todos. Acho que conversando dá para resolver”.
Inclusive por causa do andamento da discussão, o sorteio para a fase preliminar foi novamente adiado. A previsão agora é que aconteça no dia 30, e os jogos apenas nos dias 12 e 19 de julho.
Pernambuco: críticas aos montes
O modelo de distribuição das cotas da Copa do Nordeste também é motivo de discordância entre os clubes pernambucanos e os demais integrantes da Liga do Nordeste. Na edição 2017, os eliminados na fase de grupos (caso do Náutico) ficaram com R$ 600 mil cada.

Clubes pernambucanos não gostam de calendário do Nordestão (Foto: Betto Jr. / CORREIO)

Na visão deles, a competição só seria vantajosa para equipes que avançassem, já que existem premiações por cada fase alcançada. Para 2018, há ainda a possibilidade dos eliminados na seletiva sequer receberem cota.
Outro motivo de discordância é o calendário. Desde 2015, a competição vem sendo disputada intercalando datas com os campeonatos estaduais. Com a fase preliminar, haverá jogos também no meio do ano anterior à edição. O Santa Cruz disputará a seletiva de 2018, por exemplo, no próximo mês de julho, no intervalo entre os jogos da Série B – prioridade da equipe no ano.
Segundo o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, os times do seu estado querem que o Nordestão retorne ao formato anterior, quando era disputado antes do início dos estaduais e tinha seus jogos concentrados em dois meses: “Quando acertamos de retomar a Copa do Nordeste, concordamos que ela seria isso, uma copa mesmo, disputada de maneira objetiva e no início do ano. Aos poucos, ela foi tomando mais datas do primeiro semestre e hoje rivaliza em calendário com os estaduais. Virou na verdade um campeonato onde já existia outro campeonato”, explica.
“Não faz sentido continuarmos assim, fazendo estadual e Copa do Nordeste ao mesmo tempo por quatro meses, pois um canibaliza o outro. Precisamos sair de uma vez de cima do muro. Ou voltamos ao formato anterior, em que era de fato uma copa, ou decidimos de vez priorizar o Nordestão no primeiro semestre e transformamos os estaduais em copas”, completa Carvalho.
Segundo o presidente, os clubes filiados a sua entidade prefeririam disputar o Pernambucano à Copa do Nordeste no formato vindouro. Na edição 2017 do estadual, os três grandes receberam R$ 950 mil como cota de participação, independentemente de qual fase alcançaram.
Na visão do dirigente, não haverá punição se os clubes decidirem deixar o Nordestão. “Ninguém tem obrigação de disputar uma competição privada e que a CBF apenas gerencia. O clube tem dever de disputar o estadual, na realidade. Deixar a liga está no estatuto dela”.
A reportagem do CORREIO procurou os presidentes de Sport e Bahia, que preferiram não se posicionar sobre o assunto. A diretoria do Santa Cruz também foi contactada, mas não retornou às ligações.

Mais de 40 mil torcedores foram à Fonte Nova na final 2017 (Foto: Mauro Akin Nassor / CORREIO)
 Entenda a mudança no regulamento
COMO ERA - As 20 equipes jogavam a fase de grupos, com cinco chaves de quatro participantes. Avançavam às quartas de final os líderes de cada grupo mais os três melhores segundos colocados. Participavam do torneio os campeões e vice-campeões de todos os estados (18 times) mais os terceiros colocados de Bahia e Pernambuco.
COMO SERÁ - Só 16 equipes participam da fase de grupos, com quatro chaves de quatro participantes. Avançam às quartas de final os dois primeiros de cada grupo. Doze equipes garantem vaga automática na fase de grupos; são elas: campeões de todos os estados (nove) mais os vice-campeões de Bahia, Pernambuco e Ceará. Oito times disputam as outras quatro vagas na fase de grupos em jogos de ida e volta. Disputam a seletiva: os vice-campeões de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão, mais os terceiros colocados de Bahia e Pernambuco.
QUAL O ENTRAVE? O estado de Pernambuco tem três clubes grandes e, pelo novo formato, é impossível que o trio tenha vaga direta na fase de grupos. Em 2018, o Santa Cruz (3º no estadual deste ano) terá que jogar a seletiva.

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