Maria Adna, presidente do TRT-BA | Foto: Bahia Notícias
“Pela primeira vez na Justiça do Trabalho do Brasil, toma
posse, talvez de todos os tribunais do país, como presidente uma mulher
cadeirante. A sociedade ganhou”, afirmou a desembargadora Maria Adna
Aguiar, nova presidente do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia
(TRT-BA), durante seu discurso de posse, na noite desta quinta-feira
(5). Aos dois anos, Maria Adna foi acometida pela pólio. A doença não a
limitou em buscar seus sonhos, e, agora, alcançar o mais alto posto da
Justiça do Trabalho na Bahia. Ela mesma reconhece que se tornar
presidente do TRT-BA é um símbolo e representação para tantas outras
pessoas que se encontram na mesma situação. “Chamo a todos que tenham
filho, alguém em casa com alguma dificuldade, que se espelhem em mim. Eu
cheguei a uma instância tão importante, de tanta responsabilidade, como
é o TRT”, disse para a imprensa. Maria Adna considera importante
destacar o fato de sercadeirante, e, através de sua
trajetória de escolaridade, de concursos, de buscar ocupar espaços
públicos com o apoio de sua família. “Nesse momento, me sinto na
responsabilidade de contribuir para que a acessibilidade seja
disponibilizada para o conjunto das pessoas que tenham alguma
dificuldade”, disse ao Bahia Notícias. A nova presidente do TRT diz que a
acessibilidade aos prédios públicos, como do Judiciário, é importante.
“Eu vejo que não tem rampas. Você viu que aqui na Reitoria o elevador
sempre tem problema. No Supremo Tribunal Federal também tem problema.
Todos os prédios públicos tem uma dificuldade. Você vê nos toaletes que
não tem acesso. Muitas das vezes é o deposito de vassouras, de baldes. A
gente tem que ter um certo olhar mais detalhado para isso”, sinaliza.
Militante dos direitos humanos, Maria Adna diz que o tribunal do
trabalho, por si só, já trabalha com questões sociais. Ela diz que
agora, depois de levantar bandeiras, o tribunal vai incorporar essas
questões, e dar maior visibilidade a causas como o combate ao trabalho
infanto-juvenil e trabalho escravo. Sobre os desafios dos próximos dois
anos, Adna declarou que será o de estabelecer um diálogo interno com
servidores, magistrados, advogados e a sociedade, para que se possa
criar uma “nova estrutura de Justiça do Trabalho e novas premissas para
atender aos anseios de todos”. Ela será responsável por gerenciar as
atividades de 88 varas trabalhistas no estado, mas reconhece que o
número de unidades é insuficiente para atender a demanda laboral.
“Essas 88 varas não são suficientes para atender a quarta população do
Brasil e o quinto maior estado em extensão territorial. Nós temos quatro
jurisdições que são menores do que o Rio de Janeiro. 44 são do interior
não tem condição de atender o acesso à justiça, que tão é importante,
para que os que não podem, não tem transporte”, pontua. Para dar maior
celeridade aos julgamentos, ela defende uma modernização em práticas já
adotadas no tribunal, como a conciliação e mutirões de execução com
acordos “que respeite o direito dos trabalhadores e a capacidade do
empresário de honrar o compromisso deles”. Ela recebe o tribunal
totalmente digitalizado, com 100% das varas funcionando com o Processo
Judicial Eletrônico (PJE). Apesar de saber de todos os benefícios e
vantagens do sistema, diz que tem uma “certa resistência” em largar a
cultura do papel. “Eu acho muito importante a digitalização dos
processos, porque facilita o acesso, é um avanço muito grande. Agora, a
cultura do papel eu tenho uma certa resistência, porque eu acho que ela
é necessária ainda, dá uma segurança. Eu me atenho muito a questão da
segurança. Mas em contrapartida, temos que pensar nas questões
ambientais, nas arvores, em toda essa dimensão e também no servidor que
não se adapta a esse processo eletrônico. O papel não pode ser
esquecido. Sou amante do papel”, declarou. Ao final de seu discurso de
posse, a magistrada convocou seus colegas a fazer uma gestão harmoniosa,
“com a paz necessária, respeitando os mutuamente”. Agradeceu aos pares
por superarem o preconceito e a elegerem, quebrando assim, “paradigmas
históricos”. “Que essa posse, com apoio e escolha dos meus colegas,
tenha um simbolismo, que todo aquele que tem uma dificuldade, seja qual
for, saiba que pode sim, vencer os obstáculos. Seja os internos, que
ninguém percebe, ou aqueles que a vida no seu curso nos impõe”, falou.
Por fim, falou da discriminação sofrida, de dizer não ao comodismo no
Brasil de 50 anos atrás, ao deixar o colo da mãe e do pai, e buscar o
conhecimento, pois só através dele conseguiriam “ser livre, independente
e ter autonomia”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário