quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Bahia não corre risco de surto de zika vírus



A Bahia não corre risco de passar por um novo surto de Zika. É o que garante a Universidade Federal da Bahia, após realizar um estudo por meio do Laboratório de Pesquisa em Infectologia (LAPI), que contou com a colaboração de universidades e laboratórios europeus. A pesquisa estima que a doença atingiu seu potencial máximo de contaminação em apenas um ano, e essa proteção imune “coletiva” seria suficiente para conter o surto e impedir que surto similar ao de 2015 a 2016.
A possibilidade é afastada até a população atual tenha sido substituída por novos nascimentos ou pela migração. O estudo foi realizado através de modelagem matemática e pesquisa de campo, como explica o coordenador da pesquisa e professor de infectologia da Faculdade de Medicina, Carlos Brites. 
“Devido à taxa altíssima de infecção no período de um ano, e de acordo com modelo matemático desenvolvido em colaboração com uma equipe do Reino Unido, podemos afirmar que a possibilidade de um novo surto é muito pequena. Muitas pessoas já adquiriram imunidade”, garante.
Em todo o Brasil, milhares de casos da doença foram reportados, sobretudo no Nordeste. Até hoje, ainda é difícil estabelecer dados qualitativos e quantitativos precisos sobre a incidência do zika vírus, que evoluiu para epidemia, fazendo com que a Organização Mundial de Saúde (MS) decretasse emergência mundial de saúde pública, principalmente pelo grande número de nascimentos de bebês com microcefalia e outras sequelas.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), até o início de outubro deste ano, foram registrados 2.504 casos suspeitos do zika vírus. Em 2015, o número foi gritante, 66.204. Ao longo de 2016 houve uma pequena redução, contabilizando 57.189 casos suspeitos. 
Estudo
A pesquisa foi realizada com 633 pessoas, entre elas 19 mulheres grávidas com bebês cm microcefalia e 257 mulheres com bebês saudáveis, 540 pacientes com AIDS e 55 pacientes com tuberculose, todos os pacientes do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), antigo Hospital das Clínicas, e 39 funcionários saudáveis da UFBA.
No total, participaram do estudo 23 pesquisadores da Universidade, em colaboração com cientistas das universidades de Bonn, Heildelberg e do Instituto de Saúde de Berlim, na Alemanha, da Escola Francesa de Saúde Pública, em Marseille, e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, analisou amostras antes, durante e depois do surto de Zika. 
O estudo em questão resultou em um mapa da incidência do vírus na capital da Bahia, com a sua impressionante prevalência em 63% da população.
Contudo, a razão para o grande número de casos de Zika e também de Chikungunya em Salvador e no Nordeste ainda é desconhecida. Esse mapa demonstrou que a incidência de Zika associado com microcefalia é maior em áreas com piores condições socioeconômicas, corroborando relatos anteriores que demonstravam uma quantidade maior de casos no Nordeste, a região brasileira com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do país.
As universidades alemãs fizeram o teste de neutralização, um recurso que a UFBA ainda não usa em sua rotina. A equipe de Londres fez toda a parte da modelagem matemática e o contato com essa universidade se deu através de um ex-aluno do professor Carlos Brites, Jan Felix Drexler, um dos autores do artigo e reconhecido virologista. Os demais integrantes do estudo estão ligados pela rede ZikAlliance, que reúne pesquisadores e universidades do mundo inteiro. 
“Utilizamos as colaborações internacionais nesses pontos em que tivemos mais dificuldades”, explica Brites, graduado em medicina, mestre e doutor pela UFBA e com um pós-doutoramento na Universidade Harvard.
Prevenção
A prevenção do Zika deve começar com as populações em piores situações econômicas. É o que os pesquisadores sugerem, além de recomendar estudos em outras regiões do país para entender se os surtos também aconteceram fora do Nordeste. Propõem ainda que novas pesquisas focadas em microcefalia e outras doenças congênitas, para entender melhor sua relação com a infecção por Zika.
Vale registrar que o LAPI, o laboratório da UFBA hoje conduzido por Brites e inaugurado em 1990 como parte de um projeto de pesquisa sobre AIDS, a par de ser considerado um centro de excelência em pesquisa científica, tornou-se uma das maiores referências do estado da Bahia no diagnóstico e na realização de testes prognósticos da evolução da infecção do HIV e HTLV, além de doenças tropicais.

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