Ao longo do processo eleitoral – que no caso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) começa ainda em 2015 -, o futuro ocupante do Palácio do Planalto frisou a necessidade de enxugar a máquina pública federal. O destaque sempre foi a Esplanada dos Ministérios, alvo de críticas recorrentes de Bolsonaro e de aliados, pelo excesso de pastas. Agora, na prática, o presidente percebe que nada é tão fácil quanto mostrava a teoria.
Durante a campanha, Bolsonaro foi enfático na expectativa de contar com 15 ministros. Aos poucos, foi obrigado a rever essa posição e, às vésperas de concluir as indicações, vai fechar com o mínimo de 20 ministros. O número não é tão alto quanto os últimos governos. No entanto, ficou aquém da expectativa inicial. E, conforme garante Bolsonaro, não se trata do loteamento de cargos entre partidos: é uma questão de “funcionalidade”.
O passo a passo dessa peleja foi público. Passou pela discussão da – agora quase descartada – união dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, por exemplo. Porém alguns ministros saem fortalecidos do processo. Paulo Guedes e Sérgio Moro são os mais poderosos na Esplanada. Enquanto o primeiro controla a Economia, o ex-juiz vai ser responsável por um Ministério da Justiça e da Segurança Pública mais robusto do que os antecessores. É uma aposta de Bolsonaro que pode dar certo, mas só o tempo irá dizer.
Outro fator relevante que evidencia a distância entre teoria e prática é a presença de atores políticos em postos do primeiro escalão. Se as urnas defenestraram parte dos atores mais antigos do processo eleitoral, uma parcela de políticos promete ter protagonismo no futuro governo. Onyx Lorenzoni foi o primeiro na Casa Civil, porém um dos mais simbólicos nessa flexibilização do mantra de “nomes técnicos” foi Osmar Terra, ex-ministro de Desenvolvimento Social de Michel Temer e que voltará para comandar o Ministério da Cidadania.
Uma coisa é certa: os militares não têm protagonismo no governo federal desde a redemocratização na década de 1980. São ao menos cinco já elencados para postos chave, incluindo o reservista Carlos Alberto dos Santos Cruz na articulação política como titular da Secretaria de Governo – um desafio e tanto no relacionamento com o Congresso Nacional. Nesse ponto, entretanto, Bolsonaro conseguiu aplicar na prática o prometido durante o processo eleitoral.
Ainda não dá para medir exatamente a qualidade dos futuros ministros. Alguns deles foram testados em áreas bem distintas daquelas em que estão agora escalados, então é preciso aguardar o funcionamento das engrenagens antes de fazer qualquer juízo de valor. Como também é necessário observar como eles vão aplicar na prática o que o presidente da República desejou em teoria. Bolsonaro, todavia, já viu que nada é tão simples quanto parece.
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