Vendedor de picolé há 20 anos, Seu Edvaldo teme um recomeço

O clima de medo e tristeza pela possibilidade do fim das atividades da Petrobras na Bahia não afeta apenas os funcionários que trabalham dentro das dependências da Petrobras. A história de Edvaldo Silva, 47 anos, por exemplo, se confunde com a da empresa.
São 20 anos vendendo picolé na porta da sede da Petrobras, na Pituba. “Eu já conheço todo mundo. Fiz minha clientela aqui. Em épocas boas, cheguei a vender 300 picolés por dia”, recorda o vendedor, sempre entre um cumprimento e outro dos clientes fiéis.
Mesmo sem trabalhar na empresa, o possível fechamento do prédio preocupa o vendedor. Todos os dias, na porta, ele acompanha a preocupação de quem pode ter a vida totalmente bagunçada por uma mudança de estado ou demissão.
“Todo mundo só fala disso, estão todos preocupados. E não são só os funcionários que vão ser afetados”, acredita ele.
O próprio Edvaldo já tem pensado no que vai fazer. O primeiro plano é mudar seu ponto de trabalho para a região do Comércio e tentar recomeçar. Segundo ele, restaurantes e outros vendedores também estão aflitos com o impacto da saída da Petrobras da região. “Para mim vai ser difícil. Vou ter que começar tudo de novo, criar uma nova clientela, escolher um novo ponto”, lamenta.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel-BA), Daniel Alves, confirma que os impactos serão sentidos com a desativação do prédio.
“Vai ser, com certeza, uma perda muito grande para o seguimento de alimentação fora do lar. Restaurantes vão sentir e é possível até que alguns precisem fechar. O trabalhador informal, que vende quentinha ou o lanche de tarde, também deve sentir bastante”, avisa.
Fim das atividades em Salvador
Em uma breve visita ao imponente prédio de 22 andares da Petrobras para perceber o clima pesado que toma conta de quem trabalha por ali. As conversas entre eles têm assunto certo: o encerramento das operações da empresa em solo baiano e o consequente esvaziamento da agora conhecida Torre Pituba.
Abordados pela reportagem do CORREIO, a maioria dos funcionários retiram os crachás, para não serem identificados. O medo de que qualquer reclamação possa piorar uma situação que já não está boa é recorrente. Com as identidades protegidas, no entanto, o discurso é unanime.
“A situação está muito ruim, a Petrobras está destruindo famílias. A gente não sabe o que vai fazer agora”, diz um servidor. “Voltei de férias sem saber muito das coisas, mas o clima péssimo é visível. A gente só fica sabendo das coisas pela rádio peão. Tudo muito incerto”, completa outra funcionária.
Os boatos que correm os corredores dão conta de que a Petrobras decidiu transferir seus funcionários concursados para outros estados. Quem atualmente trabalha em Salvador provavelmente será deslocado para os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Já os terceirizados, sem a garantia do concurso público, já começam a buscar outros caminhos.
Fonte: Correio 24 horas
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