Unidade da JBS em Rolândia (PR) | Foto: Divulgação
A Operação Carne Fraca, deflagrada na manhã desta sexta-feira (17) em seis estados e Distrito Federal, apura venda ilegal de carnes por frigoríficos e inclui entre os alvos alguns dos principais grupos empresariais do ramo, como BRF (controladora das marcas Sadia, Perdigão, Elegê, Batavo, entre outras) e JBS (responsável pelas marcas Friboi, Seara, Le Bon, Rezende, entre outras). Além dos 331 mandados, sendo 38 de prisão; a Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão dos investigados – o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, é citado nas investigações e aparece em grampo interceptado pela operação conversando com o suposto líder do esquema criminoso, ao qual se refere como "grande chefe". A quadrilha, liderada por fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, facilitava a produção de produtos adulterados e emitia certificados sanitários sem fiscalização, mediante pagamento de propina. Com a apuração, verificou-se que o uso de carnes podres por alguns frigoríficos, que eram disfarçadas com ácido ascórbico, e a reembalagem de produtos vencidos. Entre os presos, estão executivos da BRF como gerente de relações institucionais e governamentais, Roney Nogueira dos Santos, e o diretor da BRF para o Centro-Oeste, André Baldissera. Também estão são alvo funcionários da Seara e do frigorífico Peccin, que é um dos que tinha irregularidades gravíssimas, como uso de carnes podres, segundo a PF, além de fiscais do Ministério da Agricultura. A PF informou que essa é a maior operação já realizada na história da instituição, com a participação de 1,1 mil policiais em seis Estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás) e no Distrito Federal. Segundo a PF, os frigoríficos tinham influência direta no Ministério da Agricultura para escolher os servidores que fariam a fiscalização. Roney dos Santos chegava a ter acesso ao login e senha do sistema de processos administrativos do órgão, de uso interno. “Parece realismo mágico. Infelizmente, não é", afirma o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, que emitiu as ordens de prisão. Os fiscais utilizavam apelidos para propina, como "dedo", "luva" e "documento". O suborno utilizava até mesmo caixas de carne, frango, pizzas, ração para animais e botas. "É um cenário desolador", afirma Josegrei. "Resta claro o poderio de intimidação, de influência e de uso abusivo dos cargos públicos que ostentam para se locupletarem, recebendo somas variáveis de dinheiro e benesses in natura das empresas que deveriam fiscalizar com isenção e profissionalismo".