De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pílulas anticoncepcionais continuam sendo o método contraceptivo favorito das brasileiras. Cerca de 61% das mulheres (mais de 14 milhões) optam por utilizar o medicamento, enquanto apenas 36% preferem a camisinha. Apesar disso, especialistas notaram, no último ano, uma crescente no número de mulheres preocupadas com o surgimento de trombose através do uso do medicamento.
César Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que “tal crescimento se deu pela falta de informação das mulheres sobre o real risco de trombose devido ao uso das pílulas anticoncepcionais”.
Segundo o especialista, o número de mulheres com trombose causada pelo uso da pílula é muito baixo, do ponto de vista epidemiológico. “Os estudos mostram que o risco de uma mulher que toma pílula ter trombose é de 8 a cada 10 mil mulheres”. Esse número é muito maior quando mulheres gestantes são analisadas.
A possibilidade de uma mulher grávida ter trombose é de quase 30 para cada 10 mil. Enquanto lactante – período em que a mulher está amamentando, produzindo leite –, o risco sobe ainda mais e vai para 300. “As mulheres devem ficar tranquilas, pois, se tratadas com pílulas modernas, com baixos índices hormonais e indicados para o seu perfil, os riscos de trombose caem ainda mais”, diz o especialista.
O medicamento não é utilizado apenas como método contraceptivo, mas também para tratar doenças, como ovário policístico, controlar o fluxo mensal e amenizar as cólicas menstruais. Por essa razão, muitas vezes outros métodos como o Dispositivo Intra Uterino (DIU) ou até mesmo a camisinha, não adiantam.
Sandra Bezerra, de 26 anos, fazia uso apenas para controle do fluxo e das dores, porém, por ter tendência a trombose, resolveu parar. “Eu tenho tendência a ter trombose, então resolvi parar e meu ciclo ficou irregular para sempre. Mas nunca mais senti dor de cabeça e nem as dores frequentes nas pernas”, diz.
Já Jaqueline Souza, de 24 anos, não faz uso, mas é assertiva ao dizer que o uso das pílulas “pode dar trombose ou aneurisma ou o que quer que seja, se por acaso a pessoa tiver propensão a essas doenças. Vamos ser racionais, ninguém morre porque deu algo ‘do nada’”, diz.
Especialistas ressaltam que, ainda que o medicamento seja eficaz, o risco existe principalmente para mulheres que apresentam alguns fatores específicos, tais como: idade acima de 35 anos, obesidade, períodos prolongados de imobilização (cirurgias, acidentes, viagens aéreas), tabagismo, câncer, histórico familiar de trombose, gestação e puerpério imediato (período pós-parto até 45 dias), além dos distúrbios genéticos da coagulação (trombofilias).
Na população geral, trombose venosa é algo raro. Segundo dados da Febrasgo, ocorre 1 caso para cada mil mulheres. Quando se trata das que fazem uso da pílula, o número passa para 2 a 4 casos, a cada mil.
De acordo com entrevista concedida ao Fantástico do último domingo, 16, pelo Dr. Drauzio Varella, 5% a 8% da população tem predisposição genética à doença, e é possível realizar exames para obter esta informação, porém, por um valor que varia de R$ 600 a R$ 2 mil. “O resultado vai dizer apenas se a mulher tem propensão genética. Não quer dizer que ela vai necessariamente desenvolver a doença”, afirmou.
Mulher jovem
A reportagem ainda relatou o caso de uma garota que realizou o exame, obteve resultado negativo, mas após cinco anos utilizando o medicamento, desenvolveu trombose. “Casos da doença na família servem como sinal de alerta. Principalmente quando ocorrem em um parente jovem”, alertou.
Para reduzir riscos, Dr. Fernandes diz que é imprescindível que as mulheres procurem um ginecologista para definir o melhor anticoncepcional, de acordo com o perfil e o resultado de exames: “O papel do médico é fundamental na escolha do anticoncepcional, pois ele é capacitado para analisar o histórico da paciente e oferecer alternativas que facilitem a escolha”.