Dentre as principais dificuldades para quem é deficiente visual, principalmente nas grandes cidades brasileiras, está o momento de atravessar uma rua em local onde existe uma sinaleira. Devido a incapacidade, como saber o momento certo de seguir sem se arriscar e acabar sofrendo um acidente, uma vez que nem sempre a pessoa com deficiência vai encontrar alguém disposto a ajudá-lo a realizar essa tarefa?
Até existe uma Lei, a 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. O artigo 9º da norma aponta que os “semáforos para pedestres instalados nas vias públicas deverão estar equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem estridência, ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientação para a travessia de pessoas portadoras de deficiência visual”.
Contudo, essa é uma realidade pouco presente na maioria dos municípios pelo país. Em Salvador, há alguns anos, existiam, segundo Everaldo Neres, presidente da Associação Baiana de Cegos (ABCegos), pelo menos duas sinaleiras que executavam essa função: uma na região dos Barris e outra próximo ao Instituto de Cegos da Bahia (ICB), no Barbalho. “Ambas estão paradas por que não tiveram a devida manutenção”, disse.
Ainda de acordo com ele, essa é uma luta antiga da Associação. Há cerca de oito meses, ele teria enviado um documento a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), o qual aponta a necessidade de realizar a implantação do sistema em alguns pontos considerados estratégicos na cidade, a exemplo da Praça da Piedade, entrada da Estação da Lapa, região do Shopping da Bahia e no Dique do Tororó próximo ao acesso a Arena Fonte Nova. “É uma grande dificuldade que nós temos. À noite, então, é um problema sério, pois contamos, ou com a sorte, ou com o ouvido”, comentou o presidente da ABCegos.
Resolução obriga cidades a adotarem medida
Mas, ao que parece, essa realidade está perto de ser modificada. Na última quarta-feira, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), divulgou a Resolução 704 de 10 de outubro de 2017, que padroniza e regulamenta a sinalização semafórica sonora para o deficiente visual. O objetivo é estabelecer um padrão de sinal que seja comum a todo o país, uniformizando não só os sinais sonoros, visuais e vibratórios do equipamento, como também o modo de utilização desse dispositivo. A resolução será obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2020.
De acordo com o diretor do Denatran, Elmer Vicenzi, a criação da resolução partiu da necessidade de conferir maior segurança à travessia desse tipo de pedestre, bem como em consideração à Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). “Ele contou com a colaboração de diversos atores da sociedade civil organizada, inclusive do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência (CONADE)”, explicou o gestor.
Ainda segundo ele, o deficiente visual terá a plena certeza da forma como o equipamento deve ser acionado quando necessitar realizar a travessia de uma via em qualquer cidade do país, reconhecendo rapidamente os sinais que o auxiliarão nesse processo. Conforme explicou o Denatran, caberá aos órgãos executivos de trânsito do país realizar os estudos necessários para a implantação dos semáforos dotados de sinal sonoro, minimamente nos locais indicados na lei. A resolução completa pode ser conferida através deste link: goo.gl/puQNbc.
Testes
Procurada pela reportagem da Tribuna da Bahia para falar sobre o tema, a assessoria de comunicação da Transalvador informou, em nota, que em parceria com o Instituto dos Cegos, iniciou, em janeiro deste ano, estudos para a implantação de um projeto piloto de semáforos para pedestres equipados com mecanismo que emite sinal sonoro. Em fase de testes atualmente, funciona próximo ao Hospital Santa Izabel, em Nazaré.
“Nos próximos meses, o projeto será finalizado com a implantação de mais equipamentos em locais já estudados, como a Rua Vital Rêgo, próximo ao Instituto dos Cegos, a Ladeira do Hospital Santa Izabel, no cruzamento com a Rua do Cabral, e Avenida Joana Angélica, próximo ao Colégio Central”, explicou a assessoria de comunicação.