Foto: NASA / Paul E. Alers
Além de suas importantes contribuições à Ciência, o físico britânico Stephen Hawking ficou conhecido também por sobreviver muito mais que o esperado ao diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Encontrado morto em sua casa na última quarta-feira (14), aos 76 anos, Hawking foi diagnosticado aos 21, depois de apresentar uma fraqueza muscular nas pernas. Seu prognóstico era de morte por volta dos 25 anos. Essa discrepância entre o prognóstico normalmente dado a portadores de ELA e o tempo de vida do cientista é um dos motivos que leva o neurologista Beny Schmidt, chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular da Escola Paulista de Medicina e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a acreditar que o diagnóstico estava incorreto. "Eu não acho que ele não morreu de ELA, eu tenho certeza de que não era ELA. Obviamente que ele teve uma doença neurológica, mas ELA não é assim", afirmou em entrevista ao Bahia Notícias. "A ELA é uma doença neurológica que compromete os neurônios motores número 1, que são do cérebro, e os neurônios motores 2, que são da medula espinhal. Além disso, tem características clínicas, como toda doença. Para começo de conversa, é uma doença que se desenvolve, geralmente, depois dos 50 anos de idade. A gente sabe que a doença dele se desenvolveu logo aos 20 anos, isso é muito atípico. Depois, classicamente, a ELA tem um curso muito rápido. Em poucos anos, o paciente vai a óbito por insuficiência respiratória. O quadro clínico dele – pelo menos pelo que a gente lê, porque logicamente eu não tive contato com Stephen Hawking – é diferente", explicou. Schmidt argumenta que o problema enfrentado por Hawking, que morreu com quase todo o corpo paralisado, pode estar relacionado a acontecimentos dramáticos na vida do cientista, classificado pelo neurologista como um herói. "Ele teve outra doença neurológica que, na minha opinião, está ligada a algum acontecimento ruim pelo qual esse herói passou. O que aconteceu realmente, não tenho a menor ideia. Essa é minha opinião. Eu tenho muitos pacientes aqui no Brasil que são reabilitados, apesar de um falso diagnóstico de ELA. São pessoas que têm outros problemas emocionais", disse. Em artigo divulgado na última quarta, Schmidt ressaltou que Hawking foi um verdadeiro herói, "não apenas por ter sobrevivido por décadas com o corpo paralisado, mas por, este tempo todo, nunca ter deixado de criar e construir". Para realizar diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica, os médicos precisam passar por um processo de exclusão de outras enfermidades, já que não existe nenhum exame que identifique a doença. Em alguns casos, o diagnóstico pode levar anos para ser concluído. "Os nossos hábitos de vida e as emoções humanas mudam a expressão genética, isso está comprovado na literatura médica". Na opinião de Schmidt, o que falta aos profissionais de saúde atualmente é humanização do atendimento. "Não dá para o paciente entrar no consultório e o médico perguntar apenas sobre os sintomas. Eu preciso conhecer o paciente para ajudá-lo como médico", reforçou o neurologista. "Muitos médicos, quando dão o diagnóstico de ELA, por exemplo, falam que a sobrevida é de quatro anos. É como se matasse a pessoa naquele dia, naquele instante. Ninguém vive sem expectativa de viver", criticou.