Foto: Lucas Franco / Bahia Notícias
Já classificada como “Guerra Santa” por algumas pessoas
presentes na sessão desta quarta-feira (22), na Assembleia Legislativa
da Bahia (AL-BA), a criação do Conselho Estadual dos Direitos da
População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT)
voltará a ser discutida na próxima terça-feira (28), quando também deve
ser votado – em segundo turno – o Orçamento do Estado para 2014. A
instalação do grupo na Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e
Direitos Humanos (SJCDH) estava entre os inúmeros projetos que seriam
aprovados por acordo e com dispensa de formalidade nesta quarta, ou
seja, com o sim de todos os deputados, sem discussão ou obstrução. No
entanto, assim que o presidente da Casa, Marcelo Nilo (PDT), começou a
pronunciar “lésbicas, gays e bissexu...”, o deputado Pastor Sargento
Isidório (PSC), que sequer esperou a conclusão da frase, bradou contra o
tema. O parlamentar – que já declarou ao Bahia Notícias ser ex-dependente de drogas e ter medo de voltar a ser homossexual –
proferiu novas declarações polêmicas contra os homossexuais, mas tirou
da conta do governador Jaques Wagner (PT) a autoria do projeto, apesar
de o petista assinar a matéria. “Temos tantas coisas sérias para
discutir e cuidar. Tenho certeza que o governador não é o responsável
pelo projeto, algum assessor está traindo ele”, acusou Isidório, que
considerou o conselho uma estratégia para “instalar a ditadura gay no
Estado”. Ao garantir que não iria “assistir a aprovação de um absurdo”, o
parlamentar subiu na tribuna da AL-BA e clamou aos colegas que não
“perdessem tempo” com a discussão do “sexo deturpado” e da “ofensa
contra a família de Deus”. “Não poderia deixar de me insurgir. Não basta
a novela com Cauã Reymond pegando todo mundo. As cenas de violência e
relacionamentos de homem com homem e mulher com mulher, destruindo a
família de Deus. [...] Esse grupo diz que segurança é gay, deputado é
gay, professor é gay, vigilante é gay, tudo é gay... Respeitem os
heterossexuais”, se desesperou o pastor, visivelmente alterado na
tribuna, antes de finalizar o pronunciamento com a alegação de que, caso
aceitasse os homossexuais, Deus não teria criado Adão e Eva, mas sim
“Adão e Ivo”.
Foto: Sandro Freitas / Bahia Notícias
O pronunciamento de Isidório logo ganhou o apoio da bancada
evangélica na Assembleia, entre eles o integrante da Igreja Universal
Sildevan Nóbrega (PRB), que junto com o político cristão, pediu vista do
projeto. Apesar de existir um acordo para apreciação rápida da matéria,
Nilo foi obrigado a aceitar a solicitação de “tempo para discutir” a
criação do Conselho LGBT. “Para aqueles que representam os evangélicos é
importante ter tempo para tomar conhecimento e discutir o projeto. Nada
contra os gays”, garantiu Sildevan, membro da Comissão Especial da
Promoção da Igualdade da Casa. Em meio ao debate acalorado, alguns
deputados saíram em defesa do projeto. “Alguém que se intitula ex-gay
quer tirar o direito de quem quer ser”, pontuou Bira Côroa (PT). Kelly
Magalhães (PCdoB) disse entender a posição da bancada evangélica, mas
ressaltou que o texto apenas cria um grupo que servirá como “um canal de
diálogo para políticas de combate a discriminação e formulação de ações
afirmativas”. Luiza Maia (PT) foi mais dura e considerou o caso
“homofobia”, tendo como resposta de Isidório a acusação de praticar
“heterofobia”. O depuatado/pastor/ex-gay/ex-dependente/cristão já esteve
envolvido em inúmeras polêmicas e acusações de preconceito, inclusive
com processo aberto pelo antigo partido, o PSB,
que poderia resultar em expulsão da sigla e perda do mandato. No
entanto, a ação não prosseguiu após o parlamentar aderir à legenda do
também "polêmico" deputado e pastor Marco Feliciano, ex-presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal.
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