Foto: Carlos Magno/ GERJ
O Tribunal de Contas da União (TCU) detectou em auditoria sigilosa
sobrepreço de R$ 406 milhões na construção da Base Naval e do Estaleiro
da Marinha, em Itaguaí (RJ). Tocado pela Odebrecht, investigada na
Operação Lava Jato, o empreendimento integra o programa que prevê a
operação, até 2025, de quatro submarinos convencionais e um de propulsão
nuclear que será o primeiro a operar no Brasil. O valor a ser pago
pelas obras civis já aumentou 60% desde 2008. Por ora, a empreiteira
recebeu R$ 6,1 bilhões. O projeto tem como um dos mentores e espécie de
supervisor o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, considerado o "pai"
do Programa Nuclear Brasileiro. Presidente da Eletronuclear até o fim
do mês passado, ele pediu demissão após ser preso pela Polícia Federal,
acusado de receber propina de construtoras, entre elas a Odebrecht, nas
obras da Usina de Angra 3. Os indícios de que o valor da construção da
Base Naval e do Estaleiro está inflado são os primeiros a surgir. A
"gordura" no orçamento foi detectada após análise do TCU sobre as
planilhas entregues pela Marinha. Diante da constatação, e tendo em
vista a participação da Odebrecht no projeto, o tribunal decidiu fazer,
em caráter de urgência, uma fiscalização conjunta com a PF, o Ministério
Público Federal e a Receita Federal para apurar eventuais ilegalidades
no programa. Os órgãos, envolvidos na Lava Jato, já apuram suspeitas de
irregularidades no empreendimento. O valor original das obras da base
naval e do estaleiro era de R$ 4,9 bilhões. Além do sobrepreço no
orçamento, os auditores analisam alterações de projeto que forçaram a
celebração de aditivos contratuais, elevando o preço a ser pago para R$
7,8 bilhões. A planta e os detalhes atualmente em execução foram
aprovados em 2012 pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que
atua como órgão regulador e avalia aspectos de segurança.
O programa dos submarinos ganhou corpo em 2008, graças a um acordo
assinado entre Brasil e França. A negociação foi feita pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o então mandatário francês,
Nicolas Sarcozy. Além do estaleiro e da base, o plano prevê a
transferência de tecnologia ao País para a construção dos cinco
submarinos, entre os quais o de propulsão nuclear, maior ambição dos
militares brasileiros - atualmente, só seis nações operam com esse tipo
de veículo militar. Após as negociações com Lula, a empresa francesa
DCNS, responsável pela transferência da tecnologia, formou consórcio com
a Odebrecht para projetar e desenvolver os submarinos. A empreiteira
também foi contratada para a construção do estaleiro e da base naval.
Não houve licitação para a escolha da parceira brasileira. A Marinha
alega que não cabe a abertura de concorrência nesses casos, por causa do
sigilo que, "necessariamente", reveste projetos como o dos submarinos.
"Trata-se de plantas de instalações nucleares militares, envolvendo
características que não podem ser objeto de divulgação pública",
justifica. A Marinha sustenta que não houve participação do governo
brasileiro na escolha da empreiteira. "Como as obras civis de construção
do estaleiro e da base seriam realizadas no Brasil, somente uma empresa
nacional poderia fazê-lo. Daí resultou a necessidade de a DCNS se
associar a uma empresa brasileira de grande porte que pudesse fazê-lo. A
seleção da Odebrecht como parceira na empreitada foi de livre escolha
da DCNS, que, para tanto, empregou critérios próprios", assegura. A
Marinha alega que, "evidentemente", pesou na suposta decisão dos
franceses o fato de a Odebrecht, nos anos 1980, "ter construído a Base
Naval de Mocanguê e ter participado, ainda, da construção das usinas
nucleares de Angra dos Reis, além de ser reconhecida internacionalmente
como capaz de executar obras civis e atividades industriais complexas".
Tanto a construtora quanto a Marinha apresentaram justificativas para os
preços, o que está sendo analisado pelo TCU.
Nenhum comentário:
Postar um comentário