Uma substância presente na planta Abrus pulchellus tenuiflorus, que faz parte da flora brasileira, pode combater células infectadas com HIV e até com câncer. A descoberta foi feita por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos, no interior de São Paulo, em parceria com cientistas americanos. Trata-se de um tratamento de imunoterapia — quando apenas as células doentes são combatidas, sem lesionar as células saudáveis —, mas com a proteína de uma planta do País.
Os estudos com as células infectadas com HIV foram executados pelo doutorando do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), Mohammad Sadraeian, em parceria com um laboratório específico para o desenvolvimento de pesquisas com HIV, no Health Sciences Center da Louisiana State University, nos Estados Unidos.
Em entrevista ao R7, o professor do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos e orientador da pesquisa, Francisco Eduardo Gontijo Guimarães, explica que a pesquisa está na fase experimental apenas com células infectadas para demonstrar o conceito.
— Ainda são necessários anos de estudo para que a substância sejar aplicada em outros níveis, como em testes com animais e humanos e, futuramente, transformar a descoberta em medicamento.
O estudo
Para elaborar o estudo, os cientistas extraíram da planta uma proteína chamada Pulchellina, já conhecida como uma potente toxina vegetal. A proteína foi combinada com anticorpos e combateu glóbulos brancos [células do sistema imunológico que defendem o organismo contra doenças] infectados pelo HIV.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) afirma que 36,7 milhões de pessoas viviam com o vírus HIV em 2015. O vírus pode ser transmitido em relações sexuais sem uso de preservativos; uso compartilhado de seringa, agulha ou instrumentos cortantes não esterilizados; transfusão sanguínea; e na gestação, parto ou amamentação. Em estágio avançado, a infecção pelo vírus se transforma em AIDS.
O HIV se instala nos glóbulos brancos (leucócitos), células do sistema imunológico que defendem o organismo contra doenças, infecções e outras complicações, liberando proteínas que se distribuem na membrana externa dos leucócitos para enganar o sistema de defesa, transmitindo a mensagem de que as células infectadas estão sadias.
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Existem medicamentos antirretrovirais que atuam na estabilidade do sistema imunológico dos portadores do HIV. O tratamento aumenta a sobrevida e melhora a qualidade de vida dos pacientes, mas podem ocasionar efeitos colaterais, como diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo, agitação e insônia. Por isso, o novo tratamento com a substância seria menos invasivo para os portadores do vírus, assim como para pacientes com câncer, afirma o professor.
— No caso do tratamento contra o câncer, o princípio é o mesmo, mas a proteína se ligaria em outro tipo de anticorpo que reconhece as células atingidas pela doença.
O cientista ressalta que a planta não deve ser consumida em nenhuma hipótese, seja por animais ou humanos, porque pode matar, dependendo da dose ingerida.
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