Em um mundo cada vez mais virtual, onde é
grande a batalha para aparecer na vitrine da internet e tentar
transmitir a imagem e o discurso que se quer, os candidatos ao governo
do estado acabaram tragados de vez pela onda tecnológica.
Ao contrário de 2010, quando a disputa eleitoral
pela rede teve caráter embrionário, os comandos de campanha este ano
investiram alto em equipes de profissionais especializados e também em
artimanhas e artifícios voltados a ganhar a guerra online.
Entre
os truques virtuais largamente disponíveis para políticos, estão os
serviços de empresas que atuam para vitaminar artificialmente sites de
campanha e páginas de candidatos nas redes sociais. Sobretudo através da
venda de “curtidas” ou de seguidores. O CORREIO teve acesso ao
portfólio de duas delas: a SMM Brasil e a Volume Social. Embora não haja
qualquer garantia de idoneidade, ambas disponibilizam em suas páginas
os valores dos pacotes.
O antes sisudo, Paulo Souto tem apostado em sorrisos e abraços. Foto: Reprodução/Facebook
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Por R$ 65, é possível comprar, na SMM Brasil, até
500 curtidas - ou seguidores, no caso de perfis pessoais. Com R$ 1.999,
dá para chegar mais longe e comprar 25 mil seguidores ou curtidas. No
Instagram, adquirir mil curtidas por cada foto sai a R$ 999 na mesma
empresa, que também oferece pacotes de visualizações de vídeos no
Youtube.
Já a Volume Social inclui
também venda de pacotes de seguidores no Twitter: mil sai por R$ 9. A
“entrega”, afirma a empresa, é feita em até 48 horas e a conta total
pode ser dividida em até 12 vezes sem juros. As duas empresas não
garantem, no entanto, que os seguidores curtam e comentem suas
postagens. “Não garantimos que serão usuários ativos ou que terão outras
interações com sua rede social além das solicitadas em seu pedido”, diz
um aviso da SMM.
Apesar de atuarem sem qualquer constrangimento e de
não cometerem ilegalidade, as duas empresas não responderam aos contatos
feitos pelo CORREIO. Como esperado, não há também quem admita a
utilização desses tipos de serviço na campanha eleitoral pela internet.
Tática“Políticos
em campanha, muitas vezes, contratam (esse tipo de empresa) para
parecer mais populares, com mais seguidores em suas páginas. Mas na
maioria das vezes são ‘likes’ vazios. A página consegue não sei quantos
mil seguidores, mas as publicações só têm duas, três curtidas”, aponta o
empresário Marcel Ayres, sócio-diretor da agência PaperCliq,
especializada em mídias sociais.
Conhecedor das “trapaças” usadas por quem quer
parecer dono de grande popularidade na internet, Ayres cita os dois
caminhos, ambos pouco “limpos”, para se conseguir caminhões virtuais de
seguidores. Um deles é um esquema de robô, que cria perfis fakes de
forma automática. O outro, mais globalizado, usa pessoas que seguem
páginas e curtem publicações como se fossem empregados de uma fábrica.
“São as chamadas ‘fazendas de likes’, onde gente real, de países pobres
da Ásia e Oriente Médio, tem como missão curtir uma quantidade
específica de páginas por dia”, explica.
Momentos em família são mostrados por Rui Costa para criar empatia. Foto: Reprodução/Facebook
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Jogo francoLonge
das manhas, há também o campo em que a batalha corre sem apelo a
táticas subterrâneas. Para isso, o investimento foi alto na contratação
de profissionais específicos para a campanha nas redes sociais e
incubidos, sobretudo, de cuidar das imagens dos candidatos no Facebook,
Instagram e Twitter. Embora os verdadeiros donos dos perfis façam
pessoalmente algumas postagens, a maioria das atualizações e o serviço
grosso é tarefa mesmo das equipes de mídias sociais.
E elas não são pequenas. Na campanha do candidato
petista, Rui Costa, por exemplo, cerca de 40 pessoas cuidam
exclusivamente da imagem do candidato na internet. Com estruturas
menores, Paulo Souto (DEM) e Lídice da Mata (PSB) contam,
respectivamente, com 15 e 20 pessoas em seus núcleos.
Apostando no FacebookQuando
o assunto é o custo para tocar a disputa eleitoral na internet, os
coordenadores das campanhas dos candidatos ao governo da Bahia fogem das
perguntas. Mas não escondem qual é a maior aposta. Todos são unânimes
em apontar o Facebook como a rede social que merece mais atenção.
“Todas são importantes, mas o Facebook ainda é a
principal ferramenta. Apostamos também no WhatsApp, com sua
espontaneidade e capacidade de viralizar com rapidez”, afirmou o
jornalista Pascoal Gomes, coordenador de campanha do candidato do DEM,
Paulo Souto.
Segundo Gomes, o democrata tem participação ativa
nas postagens. “Ele já tinha uma atividade muito grande no Facebook, em
uma página pessoal que ele mesmo atualizava. Agora, a gente cuida disso,
mas ele é bem criterioso e participativo. Liga, fala, às vezes vai e
responde”, garante.
O comando de campanha de Rui Costa classifica o
candidato petista como “um viciado em internet”. “Ele também alimenta as
redes. Faz a campanha usando o máximo de interatividade, tentando
dialogar com o público das mais diversas faixas etárias. Para isso,
também temos jornalistas jovens e experientes na equipe”, informa a
assessoria do petista .
Com menor tempo de TV entre os três principais nomes
da disputa, Lídice da Mata (PSB) aposta alto nas redes sociais e faz
questão de responder, ela mesma, aos comentários dos internautas. “Tem
momentos que eu entro e respondo às pessoas. Isso de noite, porque
durante o dia não tenho condição”, afirma a senadora. E entre críticas e
elogios aos adversários, sobram sorrisos, abraços e cabeças erguidas
nas fotos compartilhadas nas páginas dos candidatos.
Na tentativa de criar empatia com os eleitores, vale
compartilhar momentos em família e abraços calorosos em militantes. A
equipe de Rui Costa criou no Facebook um álbum do petista apenas com
fotografias do candidato assistindo aos jogos da Seleção na sala de casa
e cercado pela família. Sobraram imagens com a filha caçula, ao lado da
esposa e até com o sogro.
Lídice, por sua vez, deixa de lado a intimidade, mas
foi uma imagem dela com a neta Bebel, durante o jogo entre Brasil e
Chile, a que fez mais sucesso na página, atingindo mais de mil curtidas.
“Não sou de expor a família, mas naquele dia eu estava vendo o jogo com
ela, tiraram a foto e acabei postando”, explicou.
Já a página de Paulo Souto no Facebook até há fotos
com crianças, mas não as de sua família. O democrata prefere alimentar
seu perfil com imagens de eventos e ao lado de líderes políticos
aliados, além, é claro, de críticas aos governos petistas.
Em nível nacional, críticas também não faltam na
página do tucano Aécio Neves. Para atacar a gestão petista, ele chegou a
criar a hashtag #BrasilReal, que agrupa denúncias contra o governo de
Dilma, que se movimenta bastante pelo Twitter, onde responde aos ataques
e faz comentários sobre assuntos em voga. Já Eduardo Campos (PSB), que
usa com muita força o Facebook, mescla críticas e ataques com fotos de
família e de abraços calorosos em campanha.
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