terça-feira, 18 de agosto de 2015

Brasil urbano x Brasil rural

Dois Brasis totalmente distintos. É o que mostram os dados do Censo Escolar 2014 no que diz respeito à infraestrutura das escolas urbanas e rurais do país. No quesito saneamento básico, o abismo é enorme. Os números revelam, por exemplo, que 70% das escolas da área urbana contam com esgoto encanado, ante 5% das rurais. Como não contam com rede de esgoto, 80% das escolas rurais dependem de fossas. Mas o que chama a atenção é que 15% não têm nenhum tipo de estrutura para lidar com os resíduos.
Além disso, enquanto 94% das escolas urbanas possuem conexão com uma rede de água, só 27% das rurais contam com a ligação. O restante depende de poços artesianos, cacimbas ou fontes naturais. E o mais preocupante: 14% têm serviço de água inexistente.
Os dados, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foram tabulados a pedido do G1 pela Fundação Lemann e pela Meritt, responsáveis pelo portal QEdu.
Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann, diz que as escolas rurais são um grande desafio. “Muitas vezes elas ficam em regiões com más condições de infraestrutura, que vai desde energia a saneamento básico. Esse cenário dificulta muito garantir uma infraestrutura escolar adequada. Em muitas localidades têm se percorrido um caminho de nucleação de escolas, abrindo-se escolas em locais com melhor infraestrutura, fechando as escolas rurais sem condições e garantindo transporte escolar para os alunos. Mas esse caminho não é tão simples de se seguir em todas as regiões.”
Para especialistas ouvidos pela reportagem, é preciso que exista um modelo de escola do campo, adequado às necessidades locais.
É necessário que a gente pense na realidade do Brasil como um todo. Uma coisa são as escolas urbanas, onde há uma estrutura que permite um certo investimento, onde chega a rede de água até a escola, a rede de esgoto. Quando a gente fala de escolas rurais, percebe coisas que não são viáveis Joaquim Soares Neto ex-presidente do Inep e professor da UnB
“É necessário que a gente pense na realidade do Brasil como um todo. Uma coisa são as escolas urbanas, onde há uma estrutura que permite um certo investimento, onde chega a rede de água até a escola, a rede de esgoto. Quando a gente fala de escolas rurais, percebe coisas que não são viáveis. No Norte do país, por exemplo, como fazer para a rede de água chegar se a escola fica a centenas de quilômetros?”, questiona Joaquim Soares Neto, ex-presidente do Inep e professor da Universidade de Brasília (UnB). “A gente não pode querer um padrão urbano para regiões rurais.”
O pesquisador Thiago Alves, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concorda. “É inegável a necessidade de garantir condições de qualidade ao aluno da escola do campo: água, esgoto sanitário, lixo. Mas a forma de garantir essa infraestrutura, às vezes, pelo contexto do campo, é diferente”, diz.
Existem hoje no país 122.214 escolas na área urbana e 67.604 escolas na área rural, totalizando 189.818 instituições de ensino básico. A distribuição demográfica, porém, é diferente, já que as escolas rurais concentram menos alunos (12% do total de matrículas).

Veja a comparação da infraestrutura das escolas urbanas e rurais, por cidade, em oito diferentes itens:

Nenhum comentário:

Postar um comentário