segunda-feira, 17 de julho de 2017

Adeus, dr. Cuba: médicos cubanos voltam para casa e são substituídos

Ao chegar à rua da Unidade de Saúde da Família de Parque Petrópolis, em Dias D'Ávila, Região Metropolitana de Salvador, parece que existe um artista famoso lá. Todos param, falam com ele, abraçam, agradecem. O famoso é gringo, usa jaleco branco, é médico e está sempre com o sorriso e os braços abertos. Ele é o “doutor Servilo” Ruiz Arnauld, 58 anos, o cubano que conquistou o coração dos pacientes. 
Mas, três anos após sair de Havana e vir para a Bahia atuar no Mais Médicos, o cubano arruma as malas para voltar para casa, levando o gosto pelo dendê na bagagem. O programa completa quatro anos este mês e passa por renovação. Ainda não se sabe quem vai substituir o médico - mas provavelmente será um profissional brasileiro. 
Servilo, um dos 818 médicos cubanos na Bahia, conta que vai levar a experiência internacional mais marcante que teve em 32 anos de carreira - que inclui passagens pela Venezuela e Bolívia. “Nunca vou esquecer essa experiência no Brasil. O fato de ser outro idioma, outros costumes. O povo ficou agradecido aqui, um agradecimento espiritual, de dizer que vai rezar por mim”, conta ele. 
Em Dias D’Ávila, são quatro cubanos na rede de atenção básica à saúde. E apesar do preconceito inicial com os profissionais estrangeiros, o jeito carismático do doutor “pegou” a população, como ele diz, sem falsa modéstia.
“Eles dizem: 'é o médico que fala embolado'. Eu sigo falando embolado. Mas há um amor horizontal. O médico está sempre perto das pessoas”, explica o cubano, cujo contrato acabou, e ele não pediu renovação. Vai voltar a trabalhar em uma policlínica de Cuba.
A jovem Stefane Nadja, 18, carregava o filho Ravi, de 6 meses, quando soube que o médico vai embora em agosto. “Já? Ele é muito simpático, faz um ótimo atendimento. É uma pena”, contou a moradora do Parque Petrópolis.
O cubano diz que vai carregar na memória os nomes e histórias de todos os pacientes brasileiros, como os casos de gravidez na adolescência, usuários de drogas e alcoolistas. “Tenho certeza de que conheci o Brasil de verdade. A gente já salvou muitas vidas aqui. Lutamos para conseguir mudar a mentalidade e colocar outros procedimentos na unidade.”

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