quarta-feira, 27 de setembro de 2017

“O Estado faz acordos com a JBS. Por que não fazer com o tráfico?”

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Foto: Agência Brasil
"O que seria melhor para a população do Rio de Janeiro: um acordo de leniência entre o Estado e a empresa JBS ou um acordo do Governo com o crime organizado para acabar com a violência?", questiona o advogado criminalista Jaime Fusco, 41. Suas ideias para solucionar o problema da segurança pública no Estado podem soar pouco ortodoxas. Ele defende, por exemplo, a discussão sobre um programa de “desarmamento do crime”, que incluiria a “redução de pena” para criminosos que entregassem seus fuzis. “Na Colômbia foi feito [um acordo semelhante]”, afirma o advogado, referindo-se ao acordo de paz firmado pelo Governo e pelos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2016, que pôs fim a um conflito de décadas.  “Acho que é preciso propor ideias preventivas de combate à violência. Se essas ideias passam por acordos públicos e transparentes [entre o Estado e o crime organizado], eu sou favorável”, diz Fusco, que critica eventuais negociatas "por baixo dos panos".
Nos últimos dias as ideias do advogado, que também é presidente do diretório estadual do Partido da Mulher Brasileira em São Paulo, lhe causaram problemas. Em 20 de setembro sua defesa pública sobre uma possível negociação entre Estado e crime lhe custou o cargo de presidente da comissão de Segurança Pública da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas. Suas declarações lhe colocaram sob uma chuva de críticas, tendo em vista que ele defende uma das partes envolvidas neste conflito sem fim: Fusco é advogado do traficante Antônio Bonfim Lopes, mais conhecido como Nem da Rocinha, preso em uma penitenciária federal de Roraima. Em 17 de setembro a favela da Rocinha, uma das maiores da América Latina e ex-reduto de Nem, foi invadida por integrantes da facção criminosa Amigos dos Amigos. Eles tentaram em vão tomar o controle do local, que atualmente é um domínio da facção  Comando Vermelho. De acordo com autoridades, a ordem para o ataque teria sido dada por Nem.
Em conversa com o EL PAÍS no seu escritório na região central de São Paulo, o advogado defendeu uma política de descriminalização das drogas e criticou a afirmação de que os traficantes se impõe apenas por medo nas comunidades: "O Estado entrar [nas favelas] dando tiro também não provoca medo? Por que o Estado está há décadas impondo o medo nas periferias e não resolveu nada?".
Questionado se falta algum grau de diálogo entre o Estado e o crime organizado, ele disse que sim. “Acho verdadeiramente que é preciso propor ideias preventivas de combate à violência. Se essas ideias eventualmente passarem por acordos públicos e transparentes [entre o Estado e criminosos], eu sou favorável. O que importa é resolver o problema. Não é dar licença para traficar: o Beltrame [José Mariano Beltrame, ex-secretário de Segurança Pública do Rio] já falava que o grande desafio dele com as UPPs [Unidades Policiais Pacificadoras] não era acabar com o tráfico, e sim acabar com os fuzis. E acho que esse é o grande desafio das autoridades no Rio. Imagina se lá as coisas fossem como em São Paulo? Estaria ótimo. Com todo respeito ao Rio.” Informações do El País.

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