Povo de santo acusa padre de tentar expulsá-los
Os interessados sentam cada qual em uma cadeira, numa sala no Jardim Baiano. De um lado, a Igreja Católica. Do outro, o Candomblé. De frente para uma promotora, iniciam a disputa por espaço na praça da Basílica do Senhor do Bonfim. Os representantes do Candomblé que oferecem banho de folha e outros serviços espirituais no largo acusam o padre Edson Menezes de tentar expulsá-los dali. O líder católico diz receber reclamações de turistas sobre a atuação dos candomblecistas. A peleja deixou a sacralidade e chegou ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA).
Hoje, no Largo do Bonfim, integrantes de nove terreiros atendem turistas e frequentadores da mais tradicional igreja de Salvador. São, aproximadamente, 20 lideranças religiosas. Dão banho de folhas, de milho, de água. Práticas do Candomblé que, adaptadas em frente à igreja, compõem o cenário cultural. Pois, no ano passado, os religiosos resolveram denunciar ao MP-BA as primeiras tentativas de expulsão. Sacerdotes e ialorixás dizem que, a mando do padre Edson, homens começaram a abordá-los. Numa dessas ocasiões, um deles lhes disse para “tirarem a roupa e saírem, que não seria mais permitido a presença deles ali”, como consta no primeiro documento enviado ao MP-BA a que o CORREIO teve acesso.
Sem resposta ao pedido de apuração, a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) encaminhou um novo ofício ao MP-BA em janeiro deste ano, quando as supostas ameaças de expulsão ficaram mais intensas. A organização preferiu recorrer direto ao órgão por acreditar que há infrações diversas, mais apropriadas à ação do MP, como o uso do espaço público.
Participaram da reunião o presidente da AFA, Leonel Matos, padre Edson, e representantes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), atualmente responsável pelo ordenamento de ambulantes na praça. A promotora Lívia Vaz acompanhou as acusações e defesas numa reunião realizada no dia 18 de março.
“O espaço é público e as pessoas que estão ali são sacerdotes tanto quanto ele. Exigimos o respeito devido. Por que padre Edson quer ocupar o local apenas com a Igreja Católica? Vemos como um caso clássico de intolerância religiosa, de racismo religioso”, afirmou Leonel, em encontro com a reportagem.
Mas, quando uma convivência até então aparentemente pacífica se torna um problema? Padre Edson, segundo os candomblecistas, intensificou a tentativa de organizar a praça. O espaço passou por uma obra de revitalização iniciada em abril de 2018 e finalizada no dia 15 de janeiro deste ano, promovida pela Prefeitura de Salvador.
“É uma praça pública. O que mais me deixa indignado, como cidadão, é que ele [Edson] é um representante da maior denominação católica aqui. E tão preconceituoso”, afirmou pai Alex, com 11 anos de Bonfim.
A Semop, desde então, atua na ordenação do local. Mas responde que apenas no que diz respeito ao trabalho dos ambulantes, não às lideranças religiosas de matriz africana. Os vendedores, para atuarem em praça pública, precisam se cadastrar junto à secretaria.
Banho de folhas na porta do templo católico (Foto: Marina Silva/CORREIO) Fonte: Correio 24 horas |
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