O jornal Les Echos desta quarta-feira (2) fala sobre Brasil. O correspondente do diário em São Paulo, Thierry Ogier, analisa a instabilidade política e a lenta recuperação da economia brasileira, que fazem os investidores "suarem frio
"No Brasil, uma retomada econômica fragilizada pelas incertezas políticas" é o título deste artigo de página inteira no Les Echos. Thierry Ogier escreve que, a poucos meses das eleições presidenciais, o governo de Michel Temer não empolga os investidores. "O crescimento, depois de dois anos de recessão sob a presidência de Dilma Rousseff aparece, mas não em alta velocidade", ressalta.
"É como se o copo de caipirinha estivesse meio vazio e meio cheio", brinca o jornalista do Les Echos. Para ele, a questão agora é como a economia vai poder acelerar o passo depois das eleições de outubro, que se mostram imprevisíveis e abalam a confiança dos investidores.
Les Echos avalia que o crescimento de 1% do PIB brasileiro no ano passado é decepcionante e, apesar de o governo prometer uma aumento de 3%, o começo de ano se mostra moroso. "Mesmo o FMI, que continua relativamente otimista em relação ao Brasil, acredita que o crescimento não vai ultrapassar os 2,3% este ano", salienta o jornal.
Desemprego, corrupção e dívida externa de 84%
Além disso, o correspondente do diário em São Paulo lembra que o desemprego continua assolando o país, índice que chegou a 13,1% em março. Com uma precária criação de empregos, fraca produtividade e uma mão de obra pouco qualificada, é impossível que a economia dê o salto que o governo promete, avalia o jornal.
No front das reformas, Les Echos avalia que progressos foram feitos, mas são limitados, especialmente no que diz respeito à previdência. O jornal salienta que o governo Temer, "enfraquecido pelas acusações de corrupção contra o próprio presidente, foi incapaz de reunir uma maioria qualificada para aprovar essa impopular reforma".
Enquanto isso, reitera o diário, a saúde orçamentária se degrada e as perspectivas são preocupantes. Com uma dívida externa beirando 84%, o Brasil registra 35 pontos a mais que a média dos países emergentes. A situação valeu um puxão de orelha da chefe do FMI, Christine Lagarde, que pediu publicamente que o Brasil colocasse em prática uma "consolidação orçamentária inteligente".
Para Les Echos, tudo vai depender agora do resultado das eleições de outubro e se o próximo presidente vai dar continuidade à agenda de reformas. "Lula, mesmo na prisão, continua na liderança das pesquisas, seguido de Jair Bolsonaro, ex-militar com discurso agressivo que encarna a emergência da extrema-direita", publica. Sem falar na possível candidatura de outsiders, como Joaquim Barbosa, o primeiro negro a integrar o Supremo Tribunal Federal, lembra o jornal