A proibição do uso de shorts em sala de aula causou mais uma manifestação nesta sexta-feira (26) no Rio Grande do Sul. O ato durante o intervalo do Colégio Sinodal, em São Leopoldo, no Vale do Sinos teve a participação de meninos, que vestiram os shortinhos das colegas em apoio à caisa. Na quarta-feira, a mobilização havia acontecido no Colégio Anchieta, em Porto Alegre.
Segundo a estudante do 3º ano Carmela Tomasini, de 16 anos, a ideia era mostrar que os garotos não se importavam com o uso do vestuário. "A gente resolveu juntar com os meninos, já que um dos motivos (da proibição) era por causa da presença masculina. Queríamos mostrar que para eles não faz diferença."
A proibição foi anunciada no primeiro dia de aula, em 14 de fevereiro, e restringia o uso de shorts jeans por meninas e meninos. A partir deste ano, eles teriam de utilizar a peça do uniforme escolar. Os estudantes, a maioria do 3º ano, reclamaram da aquisição da peça no último ano da escola, já que se formam no final de 2016. "Sem contar que os shorts dos uniformes são desconfortáveis", observa Rafaella de Carli, 16 anos.
Carmela conta que estuda há 14 anos na instituição e que nunca houve este tipo de proibição. "Isso mostra que por trás de toda questão do shorts tem muitas outras, como a luta pela igualdade de gênero e os direitos das pessoas, em usar o que bem entenderem", observa a estudante.
Rafaella conta que os alunos que estavam sem os uniformes completos foram chamados nesta sexta-feira para conversar com o vice-diretor da escola. Segundo a aluna, o docente explicou que o objetivo da norma é criar uma padronização, com o uso do uniforme, e afirmou que o cumprimento de alguns shorts "não seriam adequados ao ambiente escolar". "A gente alegou que era minoria que iria com shorts tão curtos e que não tínhamos muitas opções", disse Rafaella.
A aluna criticou a postura do educador. "Ao invés de ensinarem a respeitar o corpo da mulher, querem cobrir a mulher", observa.
Carmela diz ter ficado chateada com a situação. "Eu acho muito errado. Hoje os pais de meninas tem que ensinar a cobrir, já os pais de meninos dizem que tem que olhar (para as mulheres)."
Dez meninos participaram da iniciativa
Conforme as estudantes, 10 meninos participaram da iniciativa. Um deles foi Yuri Lauxen, 16 anos. Para ele, a situação mostra a necessidade de mudanças de costumes. "Temos que ir para frente. "Diretor e vice disseram que, no tempo deles, os guris tinham que vir de terno e gravata e menina de vestido. Não é por que antigamente era assim, que precisa ficar pior. Por que querem voltar no tempo?", questiona.
Durante o protesto, os meninos utilizaram os shorts das meninas, em uma ideia tomada um dia antes pelos estudantes, em uma espécie de assembleia. "Na hora, alguns deles decidiram não participar, por vergonha", conta Raffaela. Durante a mobilização, os adolescentes seguraram cartazes com letras, formando a frase "Eles por Elas".
Colégio diz que uso de uniforme é obrigatório
Em nota, o Colégio disse que não se manifestará sobre a reação dos alunos. "Sempre que possível, ações como estas são transformadas em conteúdos pedagógicos."
A instituição, no entanto, informou que o uso de uniformes é obrigatório nas dependências do colégio. "Dentro da variedade de uniformes disponíveis, há shorts para todos os alunos da escola. Inclusive, com três modelos de shorts para meninas e dois modelos de shorts para meninos. Cabe ao aluno, junto com seus pais e responsáveis, escolher a mais confortável e melhor forma de compor a sua vestimenta na escola, seguindo as regras do colégio", diz o texto.
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