A preocupação com a febre amarela cresce a cada vez que é atualizado o número de macacos encontrados mortos em Salvador. Nesta quinta-feira (1º), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou o balanço final do mês passado: desde o início do ano são 58 animais encontrados mortos em diversos pontos da cidade - em janeiro do ano passado apenas um macaco havia sido achado sem vida na cidade.
Amostras de sangue dos primatas mortos e de outros sete encontrados vivos também estão em análise para verificar se indicam febre amarela. Nenhum resultado de exame foi divulgado até o momento, e não há previsão de conclusão das análises.
Mais animais foram recolhidos na última terça-feira (30), nos bairros de Narandiba e Brotas, e quarta-feira (31), no Itaigara. Outros dois macacos vivos, encontrados na Colina Azul ainda nesta quarta e em Cajazeiras VI nesta quinta, tiveram amostra de tecido recolhidas para análise.
No total, 83 epizootias (epidemia entre animais não humanos) foram registradas na Bahia em janeiro deste ano, dentre eles as do 58 macacos encontrados mortos em Salvador. Foram encontrados macacos mortos em 15 municípios baianos: Araçás, Conde, Lauro de Freitas, Mairi, Mata de São João, Paulo Afonso, Presidente Tancredo Neves, Salinas da Margarida, Salvador, Santa Rita de Cássia, Santo Antônio de Jesus, São Francisco do Conde, São Gonçalo dos Campos, Varzedo e Vera Cruz.
Até agora, não houve confirmação de febre amarela nos bichos. Um homem de vindo de São Paulo morreu em Salvador infectado com a doença no último dia 14.
“O risco da doença em humanos não pode ser descartado, por isso temos um trabalho de monitoramento e de vigilância sentinela em relação às mortes de macacos, que são importantes para sinalizar a presença do vírus. É muito importante que as pessoas não agridam e não matem os macacos, porque eles não transmitem a doença”, explicou Akemi Erdens, sanitarista da vigilância epidemiológica do estado.
Resultados
A Fiocruz do Rio de Janeiro, referência nacional para esse tipo de análise, recebe as amostras encaminhadas pela SMS para investigação da causa dos óbitos. São realizados dois tipos de exames para avaliar a presença do DNA do vírus de febre amarela nos tecidos dos macacos resgatados, a imunohistoquímica ou o teste de reação em cadeia de polimerase (PCR).
O prazo para conclusão dos exames de primatas é de 72h para o PCR e de 15 dias para a imunohistoquímica, contando a partir do dia que o laboratório recebe as amostras de tecido do animal. Uma fonte ligada à Fiocruz do Rio afirmou ao CORREIO que o resultado obtido é lançado em um sistema que o solicitante tem acesso.
Segundo Geruza Morais, até a última quinta-feira (1º) a Fiocruz não informou os resultados das análises das amostras dos macacos de Salvador. No último dia 9 foi encontrado o primeiro macaco na capital este ano, no bairro de Pau da Lima.
Vacinação
A Sesab informou que a vacinação está ocorrendo normalmente nos postos de saúde do estado (nas cidades com alerta para a doença) com a dose padrão. Entre os dias 19 de fevereiro e 9 de março, municípios da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro e Minas Gerais vão realizar campanhas de vacinação contra a febre amarela com doses fracionadas.
Oito cidades baianas vão passar a administrar a dose fracionada da vacina: Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Candeal, Itaparica, Mata de São João, São Francisco do Conde e Vera Cruz. De acordo com o Ministério da Saúde, 2,5 milhões de baianos serão vacinados com a dose fracionada e 813 mil com a dose padrão nos oito municípios.
No total, 1.080 casos de febre amarela foram notificados no Brasil entre 1º de julho de 2017 e 30 de janeiro. Dentre estes, 213 foram confirmados, ou seja, 19,7% do total de notificações, e 81 pessoas vieram a óbito em decorrência da doença. Os dados foram divulgados esta semana pelo ministério.
O boletim informa ainda que a Bahia teve 15 notificações de febre amarela no período, sendo que 7 foram descartadas e 8 estão em análise. O Ministério da Saúde enviou 3,7 milhões de doses da vacina para a Bahia a fim de intensificar as estratégias de imunização da população.
Carnaval
A preocupação em relação à febre amarela tem aumentado com a proximidade do Carnaval. Segundo a diretora de Vigilância à Saúde do município, Geruza Morais, a recomendação é que as pessoas se vacinem, já que a chegada de turistas que possam estar contaminados com a doença aumenta a chance de transmissão através dos mosquitos.
“No Carnaval teremos mais gente transitando, por isso conclamamos desde o dia 9 que a população se vacine. No Verão também há aumento da quantidade de mosquitos e da circulação deles, já que ele passa da fase de ovo para mosquito em cerca de 6 dias, metade dos 10 ou 12 dias que o ciclo se dá em outras épocas”, diz Geruza.
A diretora de Vigilância à Saúde afirma ainda que o cuidado para evitar a proliferação de mosquitos deve ser reforçado. “Queremos impedir também a urbanização da doença. A população tem que olhar com cuidado seu domicílio e o entorno para evitar os criadouros de mosquito. Os Aedes transmitem na área urbana, além de dengue, zika e chikungunya, a febre amarela”.
No último dia 22, seis macacos Bugio do Zoológico de Salvador foram transferidos para uma área protegida, já que são mais suscetíveis ao contágio de doenças.