A educação é a única forma de interromper o ciclo de disseminação de fake news, concluíram os especialistas que participaram de audiência pública sobre o tema na Comissão de Educação (CE), nesta quarta-feira (27). Segundo os painelistas, não interromper o ciclo de desinformação pode levar a segregação social e representar até mesmo risco à democracia.
O senador Flávio Arns (C) conduz debate com Patrícia Blanco, João Alegria, Laura Moraes e Le Voci Sayad - Waldemir Barreto/Agência Senado |
No Brasil, segundo pesquisa do Instituto Ipsos, 62% dos brasileiros acreditam em rumores e em conteúdos falsos, o que os tornam vulneráveis às notícias falsas. Esse cenário, segundo o gerente-geral do Laboratório de Educação da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, é resultado da baixa qualidade de ensino.
— Os brasileiros têm dificuldade de assimilação por causa do seu baixo repertório de conhecimento, pela pouca fluência alfabética, especialmente, quanto aos códigos atuais de cultura digital — analisou.
Por isso, proibir a circulação de notícias falsas não resolveria o problema, alertou a presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco. Para ela, a desinformação é uma questão de entendimento social. Dessa forma, é preciso promover uma educação na qual desenvolvam habilidades como a de duvidar, de elaborar hipóteses, de investigar e de produzir sínteses.
O primeiro passo para essa solução foi a inclusão da educação midiática na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), explicou Patrícia. Agora é possível abordar em sala de aula questões inerentes ao século 21 que incluem conhecimento, habilidades, atitudes e valores essenciais a respeito da informação digital, disse.
— O que a gente espera do aluno educado midiaticamente é que ele saiba analisar, que ele saiba compreender, acessar e aplicar esse conhecimento no seu dia a dia e que saiba criar. Então, essa é realmente uma visão holística do papel do cidadão educado midiaticamente — afirmou.
Letramento midiático
Coordenador-geral da Aliança Global em Mídia e Educação da Unesco, Alexandre Le Voci Sayad destacou a importância da educação midiática nas escolas, que busca desenvolver nos alunos a capacidade de ler, compreender e analisar informações, além de produzir comunicação ética e de qualidade — habilidades que hoje são essenciais para o exercício da cidadania, explicou.
Ele afirmou que o fenômeno das fake news (ou da desinformação, termo adotado pela Unesco e que ele considera mais amplo para definir o problema) exige atuação intersetorial, envolvendo vários atores, como governos, universidades, pesquisadores e veículos de comunicação. Mas a área da educação e a preparação dos alunos nas escolas, com a inclusão da educação midiática na BNCC, ressaltou, é uma abordagem essencial no enfrentamento do fenômeno.
Também participou do painel a coordenadora de Campanhas da Avaaz, Laura Moraes.
Fonte: Agência Senado
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